domingo, 17 de julho de 2011

Vilã incompreendida’, química oferece mercado atraente a profissionais
Luiz Beltramin
Terror para parte dos vestibulandos, ao lado de outras ciências exatas como física ou matemática, a química é uma ciência em muitas vezes injustiçada pela má fama. Xingada e desprestigidada por alguns candidatos nos vestibulares e até mesmo cantada – quem nasceu antes dos anos 90 se lembra de como Legião Urbana e Paralamas do Sucesso teciam versos de ódio contra a disciplina, na canção “Química” – a ciência tem tudo para virar o jogo, cujo placar é injusto, diga-se de passagem.

Diferentemente do estereótipo facínora que recebe por vezes, seja em música, prosa, verso ou escolhas de vestibulandos, a disciplina é responsável por uma das maiores demandas por profissionais no País, com tendência ainda a ficar maior em vista dos investimentos previstos, especialmente após o anúncio das jazidas de petróleo na camada abaixo do pré-sal.

Além da questão do mercado de trabalho, a ciência também ganha holofotes – positivos – em âmbito global, já que 2011 é o Ano Internacional da Química (AIQ). A iniciativa é da Organização das Nações Unidas (ONU) que, desta forma, pretende dar coro a pesquisadores que pleiteiam o reconhecimento universal de que a ciência está na base de tudo, inclusive os processos naturais.

Com perspectivas de abertura em até 200 mil novos postos de trabalho no Brasil até o ano de 2020, de acordo com recente estudo divulgado pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), o mercado no setor, apesar do espaço garantido aos profissionais, enfrenta uma contradição. Mesmo com vagas abertas, tem gente sem trabalhar.

Conforme especialistas, a massa desempregada não atende às expectativas do também grande contingente de empresas, que busca profissionais com maior grau de qualificação.

Essa dificuldade na contratação é atestada por um dado recente apontado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Conforme o estudo, 69% dos empresários não conseguem encontrar pessoal qualificado, especialmente para cargos técnicos ou especializados. Por outro, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quase 1,5 milhão de pessoas estão desempregadas no Brasil.

E é justamente a famigerada química uma das áreas com maior potencial de absorção de profissionais. Ao lado de outros nichos como tecnologia ou engenharia, a ciência, entretanto, não pode ser considerada um atrativo apenas pela possibilidade de emprego. É preciso muita aptidão e afinidade, observam profissionais do setor.

Ou seja, vestibulandos sem intimidade com números, de certa forma, estão certos em se manter longe da disciplina. “É preciso gostar, ter facilidade com o conteúdo que exige muita Matemática”, observa a professora de química Lidiane Pradilha.

Outra particularidade, observa o também professor Moisés Pradilha, é o caráter misto da disciplina, que faz paralelo entre conceitos das ciências exatas com as humanas também. “Demanda muita interpretação de texto. É preciso aliar tanto conceito das ciências exatas quanto humanas. Na Física também é desta forma”, compara



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Ampla e natural 


Famigerada, em muitas ocasiões injustamente, a química, defendem especialistas na área, está presente nos mais elementares aspectos da vida, desde na composição de alimentos naturais até na fotossíntese. É isso que especialistas da área querem que seja estabelecido como um padrão para que a disciplina deixe, definitivamente, a carapuça de vilã.

Alexandre Simoneti também é professor da área em Bauru. Segundo ele, o campo é abrangente demais para ser taxado. O fato é que, reforça o professor, a química é base teórica e prática para qualquer processo de transformação material. “É extremamente comum que, no dia a dia, a química seja ligada a algo nocivo. É uma afirmação completamente equivocada”, considera. “Em todos os materiais, nocivos ou não, existe química”, acentua. “A química é a ciência da matéria. Porém, no jargão popular, o termo ganhou esse cunho de nocivo, em afirmações como ‘nesse alimento não há química’ ou em ‘tal loja encontram-se produtos sem química’”, ilustra.

Simoneti ainda embasa a “defesa” sobre a matéria ao elencar produtos químicos industriais e naturais. “O que ocorre é que alguns produtos químicos, como gases poluentes, plásticos, inseticidas ou agrotóxicos são nocivos para os seres vivos, podendo trazer sérias complicações”, reconhece. “Porém, é necessário que haja a distinção entre uma substância química comum, e extremamente importante, como água, oxigênio, açúcar, sal, ferro, ouro, prata ou proteínas, do grupo de substâncias tóxicas, como gases poluentes, metais pesados, entre outros”, diferencia. “Todas são substâncias químicas”, denomina. “Algumas vitais, algumas tóxicas”, define o professor.

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